domingo, 6 de julho de 2008

Crônica do ser humano!


Há muito tempo fui um bebê lindinho, fofinho. Todos queriam me pegar no colo, fazer carinhos. Cresci, um menino feliz com amigos de futebol, bola de gude e muitos sonhos infantis.

Adolescente, namorei, fiz farra, bagunças da idade, tirei notas boas, fui destaque no colégio, e como todo adolescente, muitas dúvidas quanto a faculdade. Passei no vestibular.

Após formatura, me graduei. Tornei-me um adulto, me casei. Agora um pai responsável, lutador, empreendedor. Os sonhos continuaram, fiz pós-graduação, me tornei doutor.
Muitos prêmios, honrarias, fama, reconhecimentos! Sou o doutor Fulano!

Gerenciei, administrei e fui aclamado o “funcionário do ano”. Comemorações, coquetéis, festas, palestras, aulas, ensinamentos...muitos eram os compromissos.

Em casa a família, orgulhosa, esperava pelo conforto que lhes era oferecido pelo resultado de meu empenho. Para os filhos fui o pai-herói, amigo e confidente para todas as horas. Para os amigos, um exemplo. Para os conhecidos, um afortunado!

Mas, como todo mortal, cansei. A mente ainda trabalhava mas não era acompanhada pelo corpo. “Pendurei as chuteiras”. Me aposentei. Agora era só curtir a vida, aproveitar tudo o que conquistei, que representei, que acrescentei. Mas os anos se foram, o vigor diminuiu e como moeda de país pobre, fui desvalorizado.

Hoje, tentam elevar minha auto-estima dizendo que estou na melhor idade. Mascaram uma realidade exposta. Minhas forças se foram, não tenho mais o mesmo pique, não sou mais o pai-herói, não me ouvem, não sou digno de atenção. Muito menos o funcionário do ano ou o doutor sabe tudo.
Triste sina de um ser humano. Triste sina de quem lutou, de quem sempre buscou conhecimento, reconhecimento. Como um sapato usado, como herói vencido, como um puro sangue que já não vence mais, hoje sou apenas...

...um velho!

Paz a todos!

Um comentário:

  1. Identificação imediata. Este é o sentimento. O consolo é que realmente não necessitamos de muito esforço físico para sabermos e entendermos o que existe por de tráz de uma porta, além de uma esquina, embaixo de um sorrizo, ou o que foi escondido entre as palavras. Olhares nos bastam e só nos habitamos nesse mundo dos cabeças partidas. (Depois de tanto baterem cabeças pela vida serão doutorados também) O certo de tudo é assim mesmo. Já pensou na covardia que seria se pudessemos voltar a um corpo de 20 anos com as nossas cabeças? Grande abraço...

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